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7 de jan. de 2011

Criança não descobriu o que é ser criança

Dá até certa saudade da infância que ficou para trás quando vemos que as crianças não sabem mais brincar, tampouco entendem o que é ser criança. Para as crianças de ontem eram menores as exigências, as cobranças; os apelos da mídia mais velados. Brincávamos de boneca, ciranda cirandinha, peteca, cinco-marias; os meninos jogavam bolita, atiravam pião. Sonhávamos abraçados a folguedos inocentes de uma infância verdadeiramente infantil. 
A infância de hoje é a que a TV nos impõe. Família, escola e sociedade não conseguem competir com ela, porque na TV estão os gênios da comunicação, que determinam o que é bom, segundo os ditames da concorrência, a única que conta na ganância das redes de TV.
A televisão existe, não podemos aboli-la. Pode ser boa ou ruim. Ela ensina ao menino o que é uma catapulta, mas ele não sabe o que é um bodoque. Mostra à menina todas as mazelas do erotismo e da violência, que até aos adultos assustam. É necessário analisarmos e reacendermos a discussão sobre a ética na TV e refletirmos sobre o que estamos vendo e produzindo.
A qualquer hora do dia vamos identificar manifestações de violência nos diferentes gêneros de programação. Podemos reconhecê-las nos filmes, nos noticiários jornalísticos, ou mesmo nos programas infantis. A carga de violência despejada na tela dos milhares de lares é considerável.
É preciso pensar a televisão que queremos para nossas crianças. E, antes de mais nada, ouvi-las para saber o que elas querem ver. Devemos rejeitar a exploração comercial da criança na televisão e pela televisão, respeitar seus direitos, sua inteligência, sua sensibilidade, fixar com as crianças limites ao consumo de TV, entender que quase todos os lares têm aparelho de TV, porém, nem todas as crianças frequentam a escola. E, por fim, desenvolver na criança um "olhar crítico" frente à televisão, para que deixe de ser telespectadora passiva.
A televisão paralisou o sonho da criança, estancou sua curiosidade, sua criatividade. É possível ser criança, com tantos apelos eróticos, cenas de violência, que os meios de comunicação de massa impingem cada vez mais, às nossas crianças? Elas recebem tudo pronto, não têm escolha.
Chegamos à conclusão de que a TV para a criança não é a que queremos. Que ela é mais intrusa do que aliada dentro de nossa casa. A criança ainda não descobriu o que é ser criança. E como descobriria se não lhe dão a oportunidade de pensar como criança, de ser criança. Criança não tem mais espaço, a não ser o espaço que lhe foi comprado. Obrigam-na a digerir o que ainda não tem condições de digerir, em flagrante desrespeito a seus direitos, sua sensibilidade, seu mundo infantil.
A televisão está aí a nos impor o que vende e o que dá ibope. A ideia de que devemos subornar os interesses da criança, por acreditar que a verdade está ao lado de interesse de alguns, é desacreditar no sonho infantil, é pactuar com a privação do direito de nossas crianças serem verdadeiramente crianças.
Mudar a situação não é simplesmente mudar de canal. E mais perguntas nos surgem: Quem mais influencia a criança? Será a família, a escola, a sociedade, a televisão? Qual é o papel de cada um? Que instrumentos temos para modificar este estado de coisas?
Diante de tantas interrogações, podemos ao menos dizer que é responsabilidade dos pais, da família, construir ao redor da criança uma couraça de bons exemplos, de atenção, de amor, de afeto, socorrendo-se da escola com a continuidade daquilo que ela, a família, deseja para seus filhos, para influir na sociedade, para cobrarmos todos juntos dos meios de comunicação, da televisão especialmente, o direito de as nossas crianças descobrirem o que é ser criança.